A Expansão do BRICS Plus no Comércio Global e Seu Impacto na Ordem Econômica
O grupo BRICS Plus, agora composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia, está emergindo como uma das alianças econômicas e políticas mais significativas do mundo. Estabelecido para fortalecer a cooperação econômica, reduzir a dependência do sistema financeiro dominado pelo Ocidente e promover um quadro de comércio global mais equitativo, o BRICS Plus ganhou considerável influência após sua expansão em 2024. Este artigo explora o papel do BRICS Plus no comércio global, seus esforços para desafiar a dominância do dólar americano e seu impacto geoeconômico na ordem global.
Contexto e Expansão do BRICS Plus
O BRICS foi inicialmente formado em 2006 com Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul ingressando em 2011 para completar o quadro original do BRICS. Na Cúpula de Joanesburgo de 2023, o grupo convidou Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia para se juntarem, com a adesão plena efetivada a partir de janeiro de 2024, formando o que agora é conhecido como BRICS Plus. Essa expansão posicionou o BRICS Plus como um ator-chave na economia global, representando aproximadamente 45,2% da população mundial, 33,9% da área terrestre global e 36,7% do PIB global (com base na paridade do poder de compra). Esses números destacam o imenso potencial do grupo para remodelar as dinâmicas do comércio global.

Relações Comerciais no BRICS Plus
Um objetivo primário do BRICS Plus é fortalecer o comércio intra-grupo usando moedas nacionais em vez do dólar americano. Essa estratégia foi impulsionada por sanções econômicas ocidentais, particularmente contra a Rússia e o Irã. Por exemplo, em 2024, o presidente russo Vladimir Putin anunciou que 90% dos acordos comerciais da Rússia com países do BRICS foram realizados em moedas nacionais. Essa mudança reduziu a dependência de sistemas financeiros internacionais como o SWIFT e abriu caminho para mecanismos de pagamento alternativos.
Uma das iniciativas-chave do BRICS Plus é a introdução da plataforma de pagamento digital BRICS Pay, lançada no Fórum de Negócios do BRICS em Moscou, em outubro de 2023. O BRICS Pay permite transações transfronteiriças sem intermediários tradicionais, reduzindo custos de transação e aumentando a eficiência comercial entre os estados membros. Essa plataforma é particularmente significativa para países como Irã e Rússia, que enfrentam sanções ocidentais, pois permite que realizem transações financeiras independentemente de sistemas controlados pelo Ocidente.
Papel dos Novos Membros no Fortalecimento do Comércio
A inclusão de nações do Oriente Médio e da África no BRICS Plus fortaleceu significativamente o potencial comercial do grupo. O controle do Egito, Etiópia e Arábia Saudita sobre o Canal de Suez, uma rota comercial global crítica, aumentou a influência do BRICS Plus sobre mais de 12% dos fluxos comerciais globais. Além disso, a presença do Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos como grandes exportadores de petróleo fortaleceu a posição do grupo nos mercados globais de energia. Relatórios sugerem que, se a Arábia Saudita confirmar plenamente sua adesão, o BRICS Plus poderia controlar até 42% do fornecimento global de petróleo.
O Irã, como novo membro, desempenha um papel central no desenvolvimento de corredores de trânsito internacionais. Sua localização geográfica estratégica, conectando o Mar Cáspio, o Golfo Pérsico e o Oceano Índico, facilita a criação de rotas comerciais como o Corredor Norte-Sul. Esse corredor melhora os fluxos comerciais entre China, Índia e outros membros do BRICS, reduzindo a dependência de rotas comerciais controladas pelo Ocidente.
Desafios e Obstáculos
Apesar de seu potencial, o BRICS Plus enfrenta vários desafios. Um obstáculo significativo é a rivalidade entre China e Índia, que se veem como competidores estratégicos. Desde 2020, a Índia implementou várias medidas antidumping contra a China, destacando tensões comerciais dentro do grupo. Além disso, o comércio intra-BRICS (excluindo a China) permanece limitado, com a China dominando as dinâmicas comerciais do grupo.
Além disso, pressões externas, como ameaças de tarifas dos EUA sob o presidente Donald Trump em 2025, representam desafios. Trump ameaçou impor uma tarifa adicional de 10% sobre exportações de países alinhados com o BRICS para os EUA, o que poderia impactar membros como Índia e Brasil, que ainda dependem do mercado americano. Essas ameaças sublinham as tensões geopolíticas em torno da ascensão do BRICS Plus.
Impacto na Ordem Global
O BRICS Plus está trabalhando ativamente para remodelar a ordem econômica global por meio de maior cooperação econômica e financeira. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), estabelecido em 2014, é uma ferramenta-chave para financiar projetos de infraestrutura. O NDB investiu mais de US$ 33 bilhões em 96 projetos nos países do BRICS, e com a expansão do grupo, começou a financiar projetos em estados não membros. Essa iniciativa desafia a dominância de instituições como o Fundo Monetário Internacional.
Além disso, propostas como a criação de uma bolsa de grãos do BRICS e a cooperação em energia nuclear pacífica demonstram a ambição do grupo de estabelecer uma ordem econômica independente. Esses esforços não apenas reduzem a dependência do dólar americano, mas também capacitam nações em desenvolvimento a resistir a políticas ocidentais unilaterais.
Conclusão
O BRICS Plus, com sua adesão expandida e foco na cooperação comercial, está emergindo como uma força formidável na economia global. Ao promover o uso de moedas nacionais, desenvolver sistemas de pagamento alternativos e fortalecer corredores de trânsito, o grupo visa reduzir a dependência do sistema financeiro dominado pelo Ocidente. No entanto, rivalidades internas e pressões externas, como tarifas dos EUA, podem dificultar seu progresso. O sucesso futuro do BRICS Plus dependerá de sua capacidade de navegar por esses desafios e promover uma frente econômica unificada.
Fonte: ISNA – BRICS Plus para Acabar com a Dominância do Dólar